26.3.10

Assim termina essa história...

A espera


A chegada


O amor


Foram 9 meses. Ou 39 semanas. Ou 273 dias à espera do Miguel.Quase 1 giga de fotos tiradas do barrigão, até mesmo quando era barriguinha.6 ecografias.13 consultas de pré-natal. Um susto e uma ida ao hospital. Quase nenhum mal-estar. Quase nenhum desejo maluco. Apetite e sono excessivo. 12 kg a mais. Muitas idas ao banheiro de madrugada. Trabalhei até o último dia. Dias lindos, cheios de expectativa e sonhos. Outros nem tanto: cheios de medo e insegurança. Hormônios alterados. Corpo mudando. Auto-estima também. Mas um amor incondicional nascendo. Essa foi a espera pelo Miguel. Que eu registrei aqui em 36 posts. Tivemos 8.236 visitas em menos de 8 meses, o que dá mais de mil por mês. Eita que teve gente aqui, hein? Esse espaço foi criado porque eu tenho uma necessidade extrema de registrar a vida. Viver sem deixar nada escrito não é viver pra mim (fato comprovado pelos meus milhares de diários que tive e tenho).Como deixar de fotografar com palavras o momento mais importante da minha vida? Aqui está a história do meu filho, de como ele foi amado e esperado desde que eu soube que ele existia em mim. Não foi meu confessionário, nem um lugar pra desabafo. Porque nem tudo foram flores. Foram também dias de choro em que meu travesseiro foi meu melhor amigo. Mas prefiro deixar as coisas boas, as ruins ficaram pra trás. E mesmo nos meus piores dias o amor que me une a ele não foi abalado. Estar grávida foi um turbilhão de emoções. Parir foi sublime. Mas agora estar com Miguel no meu colo e ver como ele reconhece meu cheiro, minha voz e minha pele é de uma paz sem tamanho. Não cabe mais aqui nesse espaço. Ele vai virar um livrinho que vou mostrar a ele assim que puder entender. Quem passou por aqui, comentou, se mostrou, já entrou pra história do Miguel. Quem não fez, ainda há tempo. Esse blog vai acabar. Com dor no coração, como quem deixa alguém querido pra trás. Mas é tempo de mudanças. Dias coloridos à nossa espera. Dias de descobertas diárias. Por isso vem descobrir esse novo mundo com a gente:





http://www.descobrindomiguel.blogspot.com/




Da mãe do Miguel.


9.3.10

Relato de parto

Demorou, mas chegou! Esses dias tava no mundinho do Miguel e, apesar dele ser um gentleman: tranquilo, dorme bem e deixa a mamãe aqui fazer suas coisas normalmente, estavamos nos adapatando à nova vida - que por sinal tá maravilhosa. Mas aí está.
Depois de passar a gestação inteira lendo relatos e mais relatos de parto, aqui estou eu escrevendo o MEU relato de parto. Ficou um pouco grande, então vamos por partes:
1) O meu desejo pelo parto "normal"

Desde que me descobri grávida soube que teria meu filho de parto "normal". Aliás, antes disso. Quando era criança lembro que meu pai tinha vídeos de parto e ao contrário de muita gente, eu adorava ver. Vi uma cesariana e achei muito estranha; A mulher lá dopada, deitada, com os braços amarrados, mal ver o filho. Fora a cena do corte e costura. Achei uma invasão ao corpo da pessoa. Juntando com meu MEDO de hospital, injeção e cirurgia, fui simpatizando pelo parto normal desde cedo. Não achava feio, ao contrário. Desde então virei uma militante inconsciente desse tipo de parto, o parto biológico. Sabia que era melhor pra mãe, pro bebê e sempre fui mole pras essas coisas de hospital (injeção, soro, anestesia), então assim seria. Coloquei "normal" entre aspas porque queria um parto vaginal, achando que era o que bastava para se ter um parto "natural" e seria simples assim consegui-lo (mais tarde explico a diferença entre o "normal" e o "natural").Não procurei nenhum ginecologista/obstetra humanizado, fui pra uma indicada pela minha irmã, que a atendeu uma vez e ela havia gostado muito. E eu também gostei. Calma, delicada, explicava tudo direitinho, me ouvia, enfim, pensei que estava tudo certo para ter um parto normal, afinal, toda mulher, em tese é apta a parir naturalmente, sendo a cesariana indicada para casos especiais né? Ledo engano o meu.
2) Buscando informações e a desilusão com minha G.O

Lá pelo quarto, quinto mês de gestação fui lendo mais sobre os tipos de parto e fiquei feliz porque poderia ter meu parto normal, afinal eu era uma gestante de baixo risco, tudo apontava para um parto tranquilo e tinha uma médica que iria respeitar minha decisão (lembro que assim que comecei meu pré-natal ela perguntou qual parto eu queria, respondi e ela disse: "mais no final conversamos melhor sobre isso"). No final do sexto mês de gestação, ela puxou minha orelha porque tinha engordado 2,5 kg num mês e falou "pra você que quer parto normal não é bom ter um bebê gordo demais, evite massas, doces, etc...". Aquilo ficou na minha cabeça, mas não disse nada. Já com 32 semanas (sétimo mês) ela pediu uma ecografia e falou que não gostava de fazer parto normal com bebê acima de 3,5 kg! Oi? Como assim? Não disse uma palavra, mas saí do consultório arrasada. Na ecografia com doppler, quando tava com 30 semanas, Miguel já tava com 2,o33 kg, ou seja, a possibilidade dele nascer acima do peso pros "parâmetros" dela era grande. Fui ler sobre isso. Nas comunidades sobre parto normal e humanizado vi algumas indicações pra uma "cesárea desnecessária" e essa questão do peso era bem utilizada por médicos cesaristas. Li muitos e muitos relatos de bebês que nasceram com mais de 4 kg e de parto normal ( e a mulher sem laceração no períneo!). Meu mundo caiu. Minha médica tentando me induzir a uma cesárea sem necessidade e eu não percebia. E agora? Será que devo insistir nela? Será que consiguiria convencê-la? Essa era minha esperança...

3) O curso de preparação para o parto natural e a saga por um médico humanizado
Continuei meu pré-natal com essa GO porque acreditava que conseguiria parir naturalmente com ela e por medo de trocar de médico no final do terceiro trimestre. Até que me inscrevi em um curso de preparação para o parto natural, junto com meu marido. Um mini curso de três dias que tinha como eixos: "Conhecendo o parto natural", "Como fugir de uma cesárea desnecessária" e a parte prática como " técnicas de respiração", "posições que aliviam a dor na hora da contração" e etc. Foi excelente! Era só nós e um outro casal. O curso foi fundamental pra eu me decidir: precisava achar um médico humanizado. Além da decisão de mudar de obstetra, foi lá que eu percebi que um parto normal não quer dizer um parto humanizado. E o que eu queria era um parto HUMANIZADO. Queria poder parir em um ambiente acolhedor, queria o meu direito a um acompanhante (meu marido) o tempo TODO comigo, queria liberdade pra me movimentar livremente durante as contrações ( e gritar, gemer, chorar, o que fosse sem ser reprimida), queria ter o direito de escolher pela analgesia ou não, queria liberdade pra escolher a posição na hora do expulsivo (de preferência de cócoras), não queria ninguém me depilando simplesmente porque é mais higiênico (tricotomia) e não queria fazer Episiotomia, a não ser em caso de necessidade. Enfim, tinha descoberto que sou uma mulher e não um objeto à mercê da medicina. Que meu corpo foi projetado pra isso e que eu era a protagonista do meu parto e não um médico cheio de "verdades". Era isso! Eu tinha me empoderado o suficiente pra ter o parto que eu queria, mesmo que faltasse um mês pra data prevista para o parto. Comecei, com a ajuda da doula e Educadora Perinatal que ministrou o curso, a procura pelos obstetras. Que frustração! Todos com a agenda lotada. Consulta pra dali a um mês no mínimo. Fui procurando mais possibilidades, até chegar a uma Casa de Parto numa cidade satélite daqui do DF, que infelizmente só atende a população local ( poderia arriscar e chegar lá em trabalho de parto, mas era um risco né?). A outra possibilidade era o SUS, acompanhada de uma doula, pra garantir o mínimo de intervenções, mas não era isso ainda. Queria meu companheiro ao meu lado e não uma outra pessoa (existe a lei do acompanhante, mas esta faz uma ressalva que permite que o hospital não aceite a presença masculina, por haver outras mulheres no local e ferir a privacidade das mesmas). Por último e a possibilidade mais concreta que eu tinha era a do Parto Domiciliar. Sim, isso mesmo. Depois de ler, ler, ler e me apropriar do assunto, eu e o Heitor decidimos que queriamos ter nosso filho no aconchego do nosso lar, claro que cercados de todo o acompanhamento e cuidados necessários - e não, isso não é coisa de hippie,bicho grilo ou de loucos! O parto domiciliar é tão (ou mais) seguro quanto um hospitalar, mas depois eu posto mais detalhadamente sobre isso. Com a ajuda da doula que estava nos ajudando, listamos as parteiras e obstetras que faziam parto em domicilio e lá fomos nós. Entramos em contato com uma das melhores parteiras do Brasil, que agora reside aqui no DF e ela pediu pra marcamos uma conversa antes de começar a me preparar para o parto. Marcamos para a semana seguinte (eu estava com 36 semanas). Na data marcada ela liga pra nós e informa que precisaria viajar justamente na data prevista pro nascimento do Miguel, ou seja, não poderia nos assistir. Meu coração começava a ficar apertado. Partimos pra lista dos médicos que fazem parto domiciliar aqui (que são rarissimos) e marcamos as consultamos (ou pelo menos tentamos): um já estava com a agenda lotada e o outro cobrava R$ 300 só a consulta! Mas dinheiro a essas horas não importava mais...lá fomos nós. Chegando lá a frustração não podia ser maior: o médico não fazia partos mais, estava apenas com um consultório de homeopatia (a secretaria podia ter nos avisado né? Pelo menos ele foi honesto e só cobrou metade da "consulta" - o que valeu pela ótima conversa que tivemos).
Saí de lá aos prantos. Como assim? 37 semanas e eu não sabia onde, nem como ia parir. Era o momento mais importante da minha vida e eu não sabia se conseguiria tê-lo do jeito que sonhei.

- Pausa - Saímos do consultório do tal médico num silencio sepucral e para minha surpresa, quando olhei pro meu marido, ele estava chorando silenciosamente, cheio de dor também. Poxa, isso foi tão importante pra mim. O meu amor por ele aumentou em 100 vezes nessa hora. Vi que tinha ao meu lado um COMPANHEIRO de verdade. Até então pensava que ele estava só me acompanhando e me apoiando no MEU sonho de parto humanizado (até essa hora, parto domiciliar também), até que vi que o sonho era dele também. Ele me abraçou e falou que a gente iria conseguir o "nosso" parto sim... Amo demais! - Despausa.

Apesar da tristeza, tinhamos que ser práticos: parto domiciliar não dava mais! Ao nosso ver, sem um profissional qualificado pra acompanhar é sim arriscado. Partimos pras outras possibilidades: continuar com minha GO e "tentar" o parto normal na rede privada ou ir pro SUS com a doula. Até que...

4) Encontrando um hospital e uma obstetra humanizados aos 45 m do 2º tempo

Saindo do consultório do tal médico, lembrei de um hospital que estava com um quarto especial pra parto humanizado. Já sabia dele, mas nunca cogitei porque imaginei que o preço seria absurdo, por se tratar de um hospital localizado na área mais nobre de Brasília. Mas o que custava tentar a essa altura do campeonato? Almoçamos e fomos pra lá conhecer o tal quarto. Chegando lá, fomos super bem recebidos e encantados com o quarto: barras pra apoio nas contrações, cadeira especial, cegonha pra parto de cocóras, colchão especial no chão, banheira pra parto na água, luz especial, internet sem fio, ante-sala pra familiares esperar...enfim, NADA parecido com um hostil ambiente hospitalar. Era o mais perto de um parto domiciliar que eu poderia ter. Ali eu conseguiria ficar à vontade. Ali era um ambiente calmo e tranquilo pra ter meu filho. Fomos ver o preço: um terço do que pagaríamos num hospital comum, acreditem se quiser. O preço baixo é justificado porque num parto humanizado não há gastos com procedimentos cirurgicos, anestesias e a diária da parturiente é de somente 24 horas. Fizemos o orçamento e praticamente fechamos lá. Agora só faltava o médico...

Como tudo tem sua hora, conseguimos pro dia seguinte um encaixe com uma obstetra que já haviamos tentado uma consulta antes. Lá fomos nós. Era sexta-feira e eu estava com 38 semanas e alguns dias...

5) O assalto, a consulta e a perda do tampão

No dia seguinte (26/02) fui colher sangue para uns exames finais. Meu marido me deixou no hospital e voltei de metrô sozinha, a caminho do trabalho. Foi quando fui assaltada à mão armada, como já escrevi em um post aqui. O cara ameaçou atirar e na mesma hora comecei a sentir dores fortes na barriga.Fui pra consulta de encaixe com a obstetra e ela fez o exame de toque : 1 cm de dilatação. Também conversamos sobre o meu plano de parto. Fui enfática: o mínimo de intervenções possíveis: nada de indução, nada de analgesia, nada de episio! Ela foi muito sincera e falou que respeita sempre a mulher, mas que dá a opinião dela... Ok, ok! Marquei de retornar na semana que vem. Mas à noite, comecei a perder o tampão e assim foi o final de semana inteiro...

- Pausa- No sábado começamos a correr contra o tempo. Sabíamos que a perda do tampão indicava que estava chegando a hora, então passamos o final de semana finalizado o quartinho do Miguel. No domingo à noite, o Heitor me pergunta: "Baby, o Miguel não nasce amanhã não né?" e eu, na vontade de dizer "como é que vou saber?", disse "Não, acho que não...por que?" e ele : "Porque ainda falta terminar de colocar o roda-meio na parede...". Detalhe: Miguel nasceu e ainda falta o roda-meio de um lado da parede... - Despausa-.

6) O início do trabalho de parto
Na segunda-feira (01/03) decidi não ir trabalhar e resolver as últimas coisas que faltavam pra chegada do Miguel: fazer as lembrancinhas de maternidade (sim, eu que fiz...ops, IA fazer, porque não deu tempo de eu sequer começar...rs!). Era por volta de 14:00 horas e eu estava na casa da minha mãe postando a última foto da evolução do barrigão no orkut, quando sinto como se eu estivesse fazendo xixi involuntariamente e aos poucos. Fui ao banheiro verificar, já desconfiando que era o rompimento da bolsa : líquido transparente e inodoro. Pensei que era só mais secreção e descartei a possibilidade de ser a bolsa porque imaginava que seria um "ploc" e uma enxurrada de líquido escorrendo. Voltei pro orkut e pras minhas (últimas) fotos barriguda quando sinto mais uma vez a sensação e de repente a cadeira que estava sentada já estava úmida. Coloquei um absorvente pra ver se saía mais e liguei calmamente pro meu marido: "Baby, acho que a bolsa estorou...ou está estourando, não sei!" e ele, por incrível que pareça só disse "Estou chegando aí e a gente vê o que faz".
- Pausa: Explicando esse " a gente vê o que faz": Eu e Heitor já tinhamos nosso plano de parto. Já havíamos lido que quando a bolsa rompe não é preciso ir para o hospital correndo. Que dá pra esperar até 12 horas pra entrar com antibiótico e esperar até mais 12 horas depois disso. Nos tranquilizava também o fato do líquido estar clarinho, o que significava que não havia mecônio presente, ou seja, dava pra esperar as contrações chegarem, em casa! Optamos por não falar nada pra nossa família até irmos para o hospital (pra evitar conselhos desnecessários e etc, etc). - Despausa-.
Heitor chegou e fomos arrumar a malinha da maternidade (sim, deixamos tudo pra última hora), morrendo de felicidade por estar muito próxima a chegada do nosso filho e enquanto isso eu continuava molhando o sofá, o chão...não tinha absorvente que desse jeito. Ligamos pra médica e ela pediu que fossemos lá pra ver como eu estava: 2 cm de dilatação! Ela verificou também que a bolsa não havia rompido totalmente (apenas em partes), que eu continuaria perdendo liquido e perguntou se eu já queria internar! NÃÃÃÃO! Sabia que as chances de intervenções seriam maiores assim. Preferi ir pra casa e esperar o trabalho de parto evoluir ( a essa altura eu estava sentindo contrações pouco doloridas ainda e irregulares). Como ainda havia muito líquido, o bebê estava protegido e não havia riscos de infeccção. Voltamos pra casa tranquilos e eu só sabia repetir: "vem contração, vem contração, eu te quero!". Parecia um mantra. Pensei que entraria em trabalho de parto ativo na madrugada, mas nada... (mesmo com eu e Heitor fazendo uma verdadeira maratona pró-contração : fizemos compras, subimos e descemos os 4 andares do meu prédio umas 100 vezes, tomei chá de canela, fiz agachamento, exercicos...). Mas dormi como um anjo.
7) O dia "D"
Era terça-feira (02/03) e eu acordei um pouco frustrada: as contrações ainda não estavam regulares. Sabia que estava correndo contra o tempo, porque a bolsa já tinha rompido (e eu continuava a perder líquido)e eu PRECISAVA sentir contrações. Nunca na vida desejei sentir dor assim, mas que desejei, desejei! 7 horas da manhã e minha médica me liga: " E aí, pensei que você já tinha parido! Nada de contrações? Vem pra cá pra eu te avaliar". E lá fomos nós, desejando que eu já estivesse com pelo menos uns 4 cm de dilatação. Os mesmos 2 cm! Putz!Com minha mãe foi exatamente assim: bolsa rompida, nada de contração e estacionada nos mesmo 2 cm! Não queria uma cesárea, não queria! Tinha duas opções: esperar mais a evolução do trabalho de parto ou internar e induzir com ocitocina. O natural seria esperar, mas meu coração de mãe começou a ficar apertado pensando que meu filho tava quase sem líquido para o proteger...olhei pro Heitor e ele também concordava comigo! A Ocitocina só daria o impulso de que precisávamos. Fomos pra casa e a médica disse pra ligarmos quando começasse a sentir contrações mais regulares (isso no hospital).
Era hora do almoço e eu queria enrolar ao máximo pra ir internar. Comi um pratão pensando que era minha última refeição grávida, fomos pra casa descansar um pouco antes de ir. Heitor foi ao banco e acabou que saímos para o hospital por volta das 16:00 horas (já fazia mais de 24 horas que a bolsa tinha começado a romper) e no caminho não consiguimos trocar muitas palavras, afinal sabíamos que estavámos indo "buscar" nosso filho, fruto do nosso amor, tão esperado, tão amado... Coloquei meu celular perto da barriga. com a música "Fico assim sem você" e chorei na parte "tô louca pra te ver chegar, tô louca pra ter ter nas mãos...". Logo logo eu estaria com meus filhos nos braços, só não sabia o quanto seria esse logo.
8) No hospital...

Chegamos no hospital e fomos recebidos pelo rapaz que tinha nos apresentado o quarto humanizado (e nos perguntado se haviamos decidido por ele por causa da Gisele Bundchen. Oi? Disse que depois do relato da Gisele a procura havia dobrado...acreditam?) e ele " Chegou a hora?" e ao receber positivo como resposta, se espantou com minha calma. Ele e o hospital todo. Já estava sentindo contrações bem doloridinhas a essa altura, mas ainda conseguia sorrir. Entre a assinatura do contrato e outras coisitas burocráticas eu corria pro banheiro (sim, ainda estava perdendo líquido amniótico) pra evitar de sair molhando as cadeiras e corredores do hospital, o que não foi tão eficaz assim... Por volta de 18:00 horas entramos no quarto que...não era o humanizado! Fomos levados pra uma suíte de internação comum (que já era muuuito boa!) porque uma mulher havia parido pela manhã e estava se recusando a sair de lá - fato que eles garantiram que ia resolver até a minha hora. Sinceramente, a essa altura eu estava pouco me importando se estaria num quarto humanizado, numa súíte ou em qualquer lugar...queria que minhas contrações aumentassem e só! Fomos para o quarto, ligamos o laptop e eu ainda conseguia twittar a essa altura. As contrações estava de 5 em 5 minutos mais ou menos, mas ainda duravam pouco (cerca de 20 segundos). Colocaram a ocitocina e 3 minutos depois as contrações já estava beeem doloridas. Continuavam de 5 em 5 minutos, mas além de mais intensas em relação à dor, também duravam mais, cerca de 45 segundos. Cada vez que ela vinha eu agachava o máximo que podia (li que isso ajudava a aumentar a dilatação, além de amenizar a dor). Depois agachar já não adiantava muito: eu tinha que agachar e receber massagem do Heitor (ele agaichava comigo!). Depois que a dor da contração passava, era incrível, dava até pra cochilar...você esquecia completamente dela. Após uns 15 minutos nesse ritmo, já estava um pouco cansada desses exercios abaixa-agacha e nos intervalos entre uma e outra eu deitava na cama. De repente não dava mais tempo de ir deitar na cama, era uma contração atrás da outra,num intervalo mínimo (tava de 3 em 3 min). Eu agachava e agachada mesmo o Heitor vinha fazer massagem, daí ficava de quatro rebolando (sim, mulher parindo não tem pudores! rs...), tudo pra amenizar a dor, que apesar de intensa era muito desejada. Não dava mais pra esperar: ligamos pra médica e ela " O que? Contrações de 3 em 3 min já? Tô chegando aí e se ela sentir vontade de fazer força não deixa!".

Minha obstetra morrendo de medo do Miguel nascer sem a assistência dela e eu feliz da vida porque sabia que faltava pouco...
Era umas 20:00 horas já quando a médica chegou. Fez um toque e : 6 cm de dilatação! Que alegria. Ela falou que geralmente ia progredindo 1 cm por hora, mas que era impossível prever, que podia demorar bem menos ou bem mais. Fiz as contas: levaria mais umas 3 ou 4 horas. Será que Miguel nasceria só no dia 03?
Ficamos mais uma hora nesse ritmo de contrações de 3 em 3 minutos. Lá pelas 21:30 h (sei porque lembro que estava passando a novela ainda) já estava de 2 em 2 minutos e durando cerca de 1 minuto cada. A essa altura, as contrações só aliviavam no chuveiro quente (que delícia!) e agachada. Era um momento tão meu. A médica estava sentada no sofá assistindo novela (ela não tinha muito o que fazer, afinal precisava esperar o trabalho de parto evoluir) e o Heitor ora no computador, ora assistindo TV também e de vez em quando ia lá no banheiro me dar uma força. O jeito que eu arrumei pra superar a dor era pensar "menos uma para a chegada do meu filho" e assim fomos até as 22:00 h mais ou menos. Hora de verificar a dilatação: na contração chegava a 7 cm, mas não tinha evoluido quase nada. Putz, que tristeza. A dor já estava beirando o insuportável e ainda faltava uns 2 cm!!! Nesse momento o pessoal do hospital chegou lá (e eu quase pelada, molhada e agachaida...) perguntando se já podiam nos transferir pro quarto humanizado. Oi? Eu nem lembrava mais desse quarto...mas aí pensei na possibilidade da banheira, que eu poderia ter meu filho na água. Mudamos de quarto (era ao lado). Essa mudança retratou bem meu momento: de exaustão total. De tanto abaixar, rebolar, andar durante as contrações, eu tava morta!Nisso, as contrações nem tinham intervalo mais e eu nem dava o trabalho de me levantar mais. Fui pra banheira (inflável) ver se amenizava, mas não gostei muito não. Não achava posição boa por lá e água quente a essa altura tava me dando fraqueza (engraçado como essas coisas variam de mulher pra mulher...já ouvi relatos de que a banheira era quase milagroso pra algumas!). De vez em quando o Heitor ia lá me ver e a carinha dele tava preocupante. Eu não conseguia falar mais nada, mas minha cara também devia estar a cara do desespero! Que dor! Aquele papo de ser amiga da contração não colava mais comigo. A essa altura eu cheguei a negar as contrações. Desejei que elas não voltassem mais.(Que bom que elas não me ouviram, rs!) Queria descansar, queria deitar, queria meu filho, mas não queria mais a dor. Pedi pro Heitor falar com a médica sobre a analgesia (sim, eu sucumbi! rs...). Ficava imaginando a deliciosa sensação de não sentir mais aquela dor e só fazer a força na hora certa pro Miguel nascer! Ele, prontamente, fez o que eu disse. Pegou na minha mão e,quase chorando disse que seria como eu desejasse (fofo meu marido!). A doutora foi verificar se tinha um anestesista de plantão (detalhe que eu pagaria por fora, porque no parto humanizado não está "incluso" anestesia!) e não tinha! Deram o telefone de um pra que ele se dirijisse até lá. Entre gemidos baixinhos (eu sabia que eu não era de gritar, e sabia que se gritasse perderia mais ainda minhas forças) e quase em transe ouvi toda essa negociação e ainda consegui pensar: "Putz, até esse homem chegar, eu já morri aqui". A obstetra sabia que eu não queria analgesia, que eu estava pedindo por puro desespero comum das mulheres parideiras, rs. Aí entra a parte em que ela foi maravilhosa: optou por não ligar para o anestesista. Primeiro, ficou enrolando, enrolando. Depois, quando o meu marido perguntou, ela disse "se ela já chegou até aqui sem, vai conseguir até o final". Na hora quis matar a criatura, mas hoje agradeço à Deus por ela ter feito assim. Ia receber analgesia quase na hora no expulsivo (o melhor momento!).
Falando em hora: já devia ser por volta de 22:40 h quando minha médica pediu pra eu deitar na cama especial lá (no quarto tinha essa cama que ficava em várias posições e um colchão enorme no chão, pro parto de cocóras). Subi e ela foi ver a dilatação (estava em 8 cm! ) e esperou pra ver na hora da contração (ia pra 9).
- Pausa- Sentir dor deitada é uma coisa desumana! - Despausa.
Pronto, eu estava quase lá. Porém ela verificou que meu colo ainda tava muito rigído. Então, fez uma manobra lá que disse que ajudaria. Nesse momento gemi, gemi, gemi pela primeira vez. Tudo bem que ela tava me ajudando, mas doía pra burro aquilo! Ela disse que faltava só bebê descer, que minha força seria fundamental: durante a contração fazer força pra baixo!
Eu já estava no meu limite de suportar a dor, quando acho que o Heitor perguntou se eu queria ir pra banheira (Deus me livre) ou pro colchão no chão. Eu fui para o colchão. Contávamos as contrações e na hora que ela vinha (de 1 em 1 segundo, rs!) eu tinha que fazer força pra baixo. Estava deitada, naquela posição clássica, porque eu quis mesmo. Não tinha forças pra ficar de cócoras (ajudaria bastante o bebê a descer essa posição) e tava tão exausta que teve uma hora que virei de lado e falei "Eu não consigo mais. Eu não consigo!". Era 23:04 e a querida médica me disse: "Olha, o Miguel já está no canal de parto. Só precisa de sua força pra sair. Pense que você vai fazer uma força beeeeem grande, mas que será a última. Se você fizer isso, na próxima contração ele nasce!". Pensei no meu filho, queria vê-lo, mas a dor tinha superado meu limite e simplesmente não conseguia mais fazer a tal força. Minhas pernas tremiam, meu queixo estava tremendo e suava horrores. O Heitor firmou minhas pernas, chegou no meu ouvido e falou "Nosso filho tá nascendo e ele vai ter muito orgulho da mãe que tem", "Você é forte", "Você consegue". Fui fazendo a tal força e o incentivo era geral. Ouvi "a cabecinha já apareceu, ele é bem cabeludo", continua, continua. Parecia que nunca tinha fim essa tal força que eu tinha que fazer. Fazia o maximo que dava, eles me falavam que o Miguel ja tava saindo (teve uma hora que a testinha chegou a aparecer), mas aí eu desistia e ele voltava. Ficamos assim um tempinho. Até que a obstetra parou e me falou : "Eu sei que você está exausta. Mas seu filho já está no canal de parto e ele não pode ficar muito tempo aqui. É com você". Nessa hora pensei na vida do meu filho, que a gente (eu e ele) precisávamos trabalhar em equipe e ele tava fazendo a parte dele e eu não a minha. Pensei que ele podia correr risco se eu não conseguisse. Tirei forças não sei da onde e fui fazendo toda força que conseguia. Queixo no peito, mão no joelho, força que tirei da alma e me curvava pra frente. A médica pediu que o Heitor segurasse minha barriga, empurrando o Miguel pra baixo a cada força que eu fazia. A partir daí ele não voltava mais quando eu parava de fazer força. Era questão de duas ou tres contrações agora. Eu pensava "vem meu filho, vem pra mamãe".
- Pausa- Esse é o momento que eu considero mais sublime no parto. Seu corpo não aguenta mais, mas voce arruma força pra parir sua cria. Me senti um bicho mesmo. É algo totalmente biológico. Você sabe que chegou a hora e você sabe exatamente o que fazer, como um instinto muito forte que não dá pra negar. - Despausa.
De repente não tinha mais dor, nem cansaço. Eu simplesmente fazia a força, quase que involuntariamente. Tanto que olhei pra televisão e estava passando Big Brother. Ainda tive consciencia pra pensar "não quero que a Cacau saia" (Hahahaha. Sério mesmo essa parte, gente). Toda essa calmaria foi então tomada por um fogo muito forte lá embaixo, sentia queimar minha pele. Era o tal círculo de fogo que li em tantos relatos de parto. Era o Miguel coroando. Nascendo pro mundo. Colocando a cara pra vida. Essa foi minha última lembrança. Em segundos eu estava com meu filho no colo. Não senti o corpinho dele deslizando não. Lembro do circulo de fogo e depois só do Miguel nos meus braços. O Heitor chorava e falava : "Ele é lindo". Eu não consegui falar muito. Só meu coração que batia de outro jeito. De forma mais serena, mais em paz, mais feliz. Lembro que beijei o Miguel e falei : "Meu filho, bem-vindo ao mundo. Você vai ter uma vida linda. Vai sim...Nosso Deus vai te abençoar". Peguei a mãozinha dele e beijei. Não lembro se ele ainda estava com o cordão ( sei que a médica só cortou quando parou de pulsar), mas me recordo que ele quase não chorou. E parou imediatamente quando foi pro meu colo. A doutora perguntou: "Você quer amamentar?". Eu nem respondi. E tambem por instinto, ele começou a sugar meu seio e eu a saber como era a vida. Amamentar é a segunda melhor sensação da vida (a primeira é parir).
-Pausa- Miguel estava com o cordão enrolado no pescoço e tudo transcorreu normalmente. Prova de que circular do cordão, na maioria das vezes, é só desculpa de médico cesarista pra amedrontar as mulheres. - Despausa.
Mais em mim, falei pro Heitor pegar a máquina. Ele tirou as fotos que estão no post anterior. A médica saiu e nos deixou à sós, por um bom tempo. Ficamos ali, os tres, se namorando. Até que chegou o pediatra e pediu pra levá-lo. O Heitor foi junto. Eu, imediatamente levantei (como se nada tivesse acontecido) e fui em direção ao banheiro tomar banho, quando a médica chegou e pediu pra avaliar meu períneo. Períneo? Oi? Nem lembrava disso, que sempre foi um dos meus maiores medos (não queria Episio por nada no mundo e morria de medo de uma laceração "inconsertável"). Ela viu e falou: "Tá integro!". Só tive uma laceração mínima, menor que uma unha, que ela falou que não precisava costurar, que cicatrizava em dias.
Ela se despediu e disse que no outro dia voltaria pra me dar alta. De repente fiquei sozinha naquele quarto, com uma paz inexplicável e uma sensação de força também. A essa altura recuperei minha consciencia e pensei: "Eu consegui! Eu consegui! Meu filho nasceu de mim. Ninguem tirou ele do meu ventre. Ele saiu de mim!". Tomei o melhor banho da minha vida (em pé no chuveiro e depois deitei na banheira), vesti minha camisola, penteei meu cabelo e fui pegar o laptop pra avisar a todos que meu anjinho havia nascido. As senhoras da limpeza entraram no quarto, me viram assim e perguntaram: "Cade a paciente que ganhou nenem agora?". Era eu. Tava novinha em folha.
Agora me perguntem da dor: Dor, que dor? Sinceramente, sei descrever como foi tudo. Mas não lembro da dor. Não sei como fui capaz de negar uma contração, muito menos de desejar uma cesárea na hora H (sim, eu pensei : "ai que delicia deve ser não sentir dor. Ficar lá deitada indolor e rapidinho parir..."). Nada se compara com o que eu vivi. Passaria por isso mais 100 vezes. No final, você até sente prazer, acreditem. Mas assim como é impossivel descrever a dor do parto, é também impossível narrar a alegria de sentir vida saindo de você.
Esse foi meu parto. O parto que sonhei. Que lutei pra ter. Que consegui! Hoje sou outra pessoa. Mais forte. Mais mulher!
Mas devo o "nosso" parto ao meu COMPANHEIRO Heitor, que se mostrou o homem mais cheio de garra do mundo e ao mesmo tempo, o mais solidário, o mais amigo, o mais presente. Ele pariu também. Miguel nasceu dele, em todos os sentidos. Assim como o nosso amor renasceu no dia 02/03 de 2010, às 23:30 h, junto com o nascimento do Miguel. Nosso anjo.
Ps - Sobre a recuperação: Simplesmente não existe! Parto normal não tem recuperação, tem curtição!
PS2 - Sobre a laceração: Cicatrizou. Voltou tudo pra seu devido lugar. Continuo mulher como todas as outras. Isso de que parto normal deforma a mulher não existe, pelo menos não comigo!
PS3 - Ah, no quarto éramos sós nós mesmo: eu, médica, Heitor e Miguel.
Ps4 - Quem tiver vontade de ter parto natural: corra atrás, se prepare e se permita viver a melhor experiencia que uma mulher pode viver.

6.3.10

Vida de mãe...

Primeiro post como mamãe. Não mais a "mãe do ano", porque comecei esse blog quando tinha menos de três meses de gestação, em Agosto de 2009. O ano virou. Mas antes dessa virada de ano, lembro que de 2008 pra 2009 eu falei pra mim mesma "esse ano vai ser o melhor da minha vida". Realmente. Só esqueci de completar a frase. Faltou o "até aqui". Até aquele ano, 2009 tinha sido o melhor ano da minha vida mesmo. Me tornei servidora pública. Descobri a gravidez e a vivi tão deliciosamente. Me casei. Pensei que a minha vida estava completa. Ouvia dizer que o sentimento do nascimento de um filho é inexplicável, único, intraduzível. Que não há nada como o amor de mãe. E estava esperando pelo Miguel pra tudo isso se concretizar. Depois de nove meses lendo relatos de partos, acompanhando blogs de gravidinhas que viraram mamãe, nas conversas da @turmadabarriga no Twitter, pensei que ia ser simples assim explicar o que é ser mãe. Aliás, o que é se tornar mãe. Mas não é. Há quatro dias que eu mesma tento entender. Dias que eu me vejo soltando lagriminhas do nada, só de olhar pra um rostinho que dizem se parecer tanto comigo. Procurando sentir o coraçãozinho dele, pra acreditar que é verdade o que eu tô vivendo. É verificar a cada minuto se aquele serzinho angelical está respirando. É tudo verdade o que me falaram sobre ser mãe. Mas mentiram quando disseram que é um sentimento inexplicável. Dá pra explicar sim. Ser mãe é ter vida em outro corpo. Com todos os sentidos que essa expressão oferece. Por enquanto, deixo as fotos do nascimento do Miguel, que dizem muita coisa por si só. Volto depois com o relato de parto e mais notícias desse nosso mundo novo novo.

3.3.10

Miguel nasceu!!!!

Bom,estava planejando um post "bomba" para o final da gestação, mas como meu meninão antecipou sua chegada nesse mundo, não tive tempo para preparar meu texto!A mamãe esta muito ocupada neste momento, o amamentando, por isso coloco aqui algumas notícias básicas sobre nosso Miguelzinho:
Ele nasceu de parto natural, lindo com meu acompanhamento e de forma extremamente natural e humanizada. A Marília foi uma fortaleza, suportando todas as contrações e fzendo muita força na fase expulsiva do TP.
Por falar na Marília, nosso Miguel tem a "cara" dela e minha cor. Nasceu com 3.305KG e 50 centímetros no Hospital Daher no Lago Sul, um dos únicos aqui ni DF que oferece um serrviço mais humanizado e com um preço acessível.

Abaixo, o momento mais lindo das nossas vidas:




1.3.10

Quando esperar é bom...

Procuro pelo meu marido em todos os cômodos do apartamento. Abro uma porta e ele está sentado em puff, sorrindo sozinho e olhando ao seu redor. "Já tem cheirinho de bebê aqui", eu digo. É o quarto do meu filho. MEU filho. Abro o guarda-roupa e lá tem minis macacões, minis calças, mini camisetas. Pensar que logo logo eles vestirão o corpo de um bebê que terá um pouco de mim, um pouco do Heitor, um pouco de seus avós, suas tias. Um ser humano com muitas heranças genéticas, mas que será único, singular, incomparável. Ele está aqui. Existe pra nós de verdade desde que ouvimos seu coraçãozinho a primeira vez. Mas agora é diferente. Tá muito perto da gente conhecer seu rostinho, tocar no seu corpinho, acordar com sua voz choramigando. Acho que caiu a ficha! Na sexta-feira, a última frase que troquei com meu marido foi : "Será esse nosso último final de semana grávidos?". Ele só sorriu. Nessa mesma sexta-feira estava indo trabalhar quando percebi que estava sendo seguida. Esperei e mudei um pouco o caminho. Um homem me aborda, me mostra uma arma e pede meu celular (que provavelmente ele já havia visto, porque sabia que era um IPHONE). Me ameaça. Fala pra eu correr e diz que se eu gritasse ou olhasse pra trás ele me "pipocaria". Saio andando o mais rápido que consigo, sem direção, chorando compulsivamente com o coração aos saltos até perceber que já havia andado umas três ou quatro ruas. E sentir dores na barriga. Aí me acalmo. Limpo meus olhos e lembro que eu não tava sozinha. Meu filho tava comigo, me protegendo, sofrendo comigo. Falo com ele que passou, passou. Estamos bem. Já em casa, choro um pouco lembrando do susto. "Meu filho, meu Miguelzinho, daqui uns dias você sairá da sua casinha quentinha e segura e virá pra esse mundão. Aqui não é o lugar que eu queria que fosse. É perigoso. Dá medo. Dói. Mas não precisa ter medo. A mamãe vai estar aqui pra te proteger sempre. E a gente vai ter sempre um ao outro pra fazer desse lugar o melhor possível, tá?". Ele mexe, mais calminho. Sentiu. Estranho pensar que tem um ser humano dentro de mim. Uma pessoa completa, com sentimentos, medos. Que reage às nossas palavras. Que reconhece a voz do pai. Que gosta das músicas que eu ouço. Durmo acariciando meu ventre. Acordo na madrugada ainda um pouco assustada pelo acontecido quando sinto um chutezinho na minha barriga. Foi como :"Ei, eu tô aqui. Lembra que a gente vai ter sempre um ao outro?". E de repente lembro que não estou mais sozinha: sou mãe!